Em 1º de maio de 1903, um afro-estadunidense chamado Will West entrou na Penitenciária de Leavenworth, Kansas - EUA. Como qualquer outro novo prisioneiro, West foi submetido ao procedimento padrão de admissão: os funcionários da prisão tiraram fotografias, uma descrição física e as medidas antropométricas. 

Bertillon

Estas medidas, conhecidas como Sistema de Identificação Bertillon, eram amplamente usadas por autoridades policiais mundo afora naquela época. Consistia em usar instrumentos especiais para fazer medições precisas dos braços, orelhas, nariz, tronco, cabeça, rosto, pés e mãos de um criminoso, bem como a altura em pé, a altura sentada, a distância entre as pontas dos dedos e os braços estendidos. Acreditava-se que a chance de 2 pessoas terem exatamente as mesmas medidas era infinitesimal.

Usando as medidas e a descrição de West, os funcionários de identificação acharam outro registro, sob o mesmo nome e que já havia sido condenado por homicídio. Não é de surpreender que, na opinião dos funcionários, West negasse ser esse homem, afinal só haviam inocentes ali.

A descoberta da condenação passada de Will West deve ter parecido rotineira para os funcionários de Leavenworth: mais uma vez o famoso sistema de identificação Bertillon impediu que um criminoso escapasse do seu passado. Mais uma vez, a ciência expôs as mentiras e evasões de um criminoso.

Mas, este incidente corriqueiro subitamente desviou-se do habitual quando os funcionários descobriram, para sua surpresa, que esse mesmo William West já estava encarcerado em Leavenworth!

Segundo os autores Harris Hawthorne Wilder e Bert Wentworth (1918): “A partir das medidas de Bertillon obtidas, o funcionário foi ao arquivo e voltou com o cartão das medidas solicitadas, já devidamente preenchidas… e com o nome, “William West.” Este cartão foi mostrado ao prisioneiro, que sorriu surpreso e disse:

“Essa foto é minha, mas não sei onde você a conseguiu, pois sei que nunca estive aqui antes.” O registrador virou o cartão e leu os dados ali fornecidos, inclusive as declarações de que este homem já estava preso na mesma instituição, tendo sido condenado à prisão perpétua em 9 de setembro de 1901, pelo crime de homicídio.

Will west 1

O segundo West foi convocado e parecia surpreendentemente com o primeiro. Posteriormente, as impressões digitais de Will West e William West foram comparadas. Os padrões não tinham nenhuma semelhança.

A falibilidade de três sistemas de identificação pessoal (fotografias, medidas de Bertillon e nomes) foi demonstrada neste caso. O valor das impressões digitais como meio de identificação foi estabelecido.

O diretor, R. W. McClaughry, segundo a lenda, declarou: “Este é o fim da era de Bertillon!” e interrompeu a antropometria em Leavenworth “no dia seguinte”.

Após o caso Will West - William West, a maioria dos departamentos de polícia começou a usar fotografias, medidas de Bertillon e impressões digitais em seus arquivos de fotos. Eventualmente, o sistema Bertillon foi descartado.

A história de William e Will West é um tanto sensacionalista e omite informações de registros de prisão, descobertas por pesquisadores posteriores, indicando que William e Will West se correspondiam com os mesmos membros da família e, portanto, provavelmente eram parentes.

Os registros da prisão também citam que o presidiário de Leavenworth, George Bean, relatou que conheceu William e Will West em sua terra natal antes da prisão e que eles eram irmãos gêmeos.

Seu relacionamento exato ainda é desconhecido. O que é fato é que o caso dos dois West não era incomum; muitas pessoas têm medidas antropométricas semelhantes.

É geralmente aceito que gêmeos idênticos terão as mesmas ou quase as mesmas medidas antropométricas, mas impressões digitais facilmente diferenciadas. A superioridade das impressões digitais sobre a antropometria é, portanto, clara.

Independentemente de quão crucial tenha sido o incidente para a adoção do recolhimento de impressões digitais, os registros prisionais dos dois homens – incluindo as suas fotografias quase idênticas, as medidas de Bertillon correspondentes e as impressões digitais incompatíveis – sobreviveram para autenticar uma coincidência surpreendente.

Will West, o mais novo dos dois presos de Leavenworth, cumpriu pena de homicídio culposo e não deixou rastros após sua libertação, desaparecendo assim da história.

William West, o condenado à prisão perpétua, passou um tempo em confinamento solitário por brigar e criar distúrbios durante seus primeiros anos atrás das grades. Ele foi libertado em liberdade condicional em 1919, mas não antes de tentar uma fuga.

Em 1916, tendo cumprido cerca de 15 anos de sua pena, West era um prisioneiro modelo e um dos presos “de confiança”, encarregado de proteger e disciplinar outros prisioneiros nas turmas de trabalho. Certa tarde, ele “sucumbiu à tentação”, como disse posteriormente, e fugiu. Pegou um trem de carga que passava e chegou até Topeka antes de ser preso pela polícia no dia seguinte e retornar para Leavenworth.

Os policiais que o recolheram nem precisaram de impressões digitais para confirmar que ele era um fugitivo. Uma circular emitida pela prisão com suas fotos e uma descrição física já havia chegado a Topeka. Ironicamente, foram suficientes para prender o homem que ajudou a modernizar a identificação de criminosos.




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